segunda-feira, 26 de maio de 2014

Bailando

E o universo paralelo de Raimunda volta a tremer... mas dessa vez quem se assusta é Edmunda.
Quanto barulho!
Quanto movimento!
Quanta bagunça!
São tambores, violões, flautas, vozes, palmas, maracas, pandeiros, sapateados, sons eletrônicos... uma explosão de sons, cores e sentimentos...
Então, Edmunda avista uma Raimunda eufórica, envolta em vultos coloridos e vibrantes.

Edmunda: O que é isso???

Raimunda: Uma festa, não vê?

Edmunda: Vejo, mas não entendo...

Raimunda: Você não queria que eu recuperasse a leveza? Nada melhor do que uma festa para exorcizar os demônios, libertar a alma.

Edmunda: Pode ser...

Raimunda: Ven a bailar una Rueda de Casino!

Edmunda: Ih! Pirou de vez...

Raimunda: En esta salsa Cubana parejas interactúan en una rueda. Es muy divertido!

Edmunda: Parece uma Quadrilha, com alguma sofisticação, mas uma quadrilha.

Raimunda: Se preferir podemos dançar um Cavalo Marinho...

Edmunda: Você quer dançar ou brincar de ciranda?

Raimunda: A roda é o primeiro passo para libertar a alma. A medida que a gente gira o corpo fica leve e a mente se esvazia...

Edmunda: Então tá né...

Raimunda: O efeito é melhor pulando e gritando com um bom Rock ou entrando em transe com música eletrônica.

Edmunda:Radical...

Raimunda: Se joga menina! Sente a música, sente seu corpo, se solta... cai no samba!

Edmunda: Ok! Eu me rendo...

Raimunda: Ótimo! Fica descalça sente o pé no chão... solta as pernas, os quadris... ombros, braços... namora o próprio corpo. Como é bom se encontrar! Como é bom se sentir viva!

Edmunda: Interessante... você vê na dança um meio de encontro consigo mesma, não um meio de sedução...

Raimunda: Funciona para os dois. Vamos a bailar un tango?

Edmunda:Ahn!?

Raimunda: Sí! Jugar de seducir, dramatizar el encuentro... Reaccionar a las señales del otro y averiguar lo que sus acciones tienen sobre mí.

A vida é como essa festa, uma grande mistura de sensações e sentimentos, mas é preciso se sentir primeiro, reconhecer o ego, para depois interagir com os demais. E o processo de autoconhecimento continua nessa interação...

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Auto-crítica

De repente, não mais que de repente... Raimunda começou a sentir uma coceguinha... eram cócegas estranhas, começaram tímidas e aos poucos foram se intensificando, até que ela se viu tomada por uma gargalhada incontrolável.

Raimunda: Ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk... rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs...

Edmunda: Agora sim! Bem melhor assim!!!

Raimunda: Ahahahaha... Melhor? Ahahahaha... Eu não consigo parar de rir. Ahahahaha...

Edmunda: Era o que eu queria. Você estava muito chata!

Raimunda: Ahahahahaha... Então você que está fazendo isso?

Edmunda: Claro! Eu gosto de você crítica com humor, ultimamente você está muito ranzinza!

Raimunda: E me provocar um ataque de risos resolve?

Edmunda: Esse é só começo...

Raimunda: Que medo!!! 

Edmunda: Calma, que agora vou atacar só com dicas. Meus poderes são limitados...

Raimunda: Continuo com medo...

Edmunda: Nas nossas ultimas conversas você estava muito densa, senti falta da sua leveza do seu humor. só quero que você mude um pouco seu jeito de ver as coisas.

Raimunda: O pior é que eu concordo com você. Também estava me achando rabugenta.

Edmunda: Vamos nos prender menos nas suas convicções e rir um pouco mais delas?

Raimunda: Ok! Se rir é o melhor remédio, quem sabe cure as minhas paranoias...

Edmunda: Ótimo! Então agora fica quieta que eu quero curtir a luz natural do Pacífico.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Raimunda, Edmunda e o Lobo

Encarar a realidade é doloroso. Perceber todas as faces da intolerância e até que ponto da irracionalidade ela pode levar o homem é assustador.
É... Raimunda e Edmunda ainda tem muito o que conversar...

Raimunda: Continuo inquieta...

Edmunda: O que foi?

Raimunda: Não sei... acho estranho que quanto mais produzimos ferramentas que poderiam ser usadas para exercermos nossa individualidade, mais reforçamos nossa necessidade de agir em bando, de pertencer a um grupo, de ser aceitos.

Edmunda: Não é porque o diferente te atrai, que todos tem que ser atraídos por ele também.

Raimunda: Não é isso. Na verdade tenho observado uma mudança: se antes as pessoas usavam o anonimato da internet pra dizer o que pensavam ou se permitiam alguma liberdade que não seria aceita em seu meio social, hoje elas usam a internet para se expor. Mas essa exposição segue modelos, reforça a hipocrisia, estimula extremismos...

Edmunda: É o que eu disse sobre a necessidade de popularidade.

Raimunda: Na verdade é pior do que isso. A crítica é aceita, mas seus fundamentos não importam. O bom senso e a responsabilidade pelo que se difunde estão se perdendo.

Edmunda: Verdade... mas será que as pessoas tem ideia do alcance de suas palavras?

Raimunda: Acredito que nem sempre ou quase nunca.

Edmunda: Pois é... às vezes desabafos em momentos de fúria são difundidos com uma velocidade incrível.  O que é feito a partir desse desabafo é responsabilidade de quem desabafou até para evitar uma atitude extrema ou de quem coleciona dramas para justificar atitudes extremas?

Raimunda: humm... boa!

Edmunda: O comportamento de massa que te incomoda ocorre tanto em atitudes "inocentes" como na difusão de informações distorcidas, como em atos bárbaros de "justiça" com as próprias mãos.

Raimunda: Exato!

Edmunda: O homem é lobo do próprio homem, isso não é novidade... Sua bobinha!

Raimunda: É... Somos todos macacos, não pela aparência física, mas pelo comportamento primitivo, que pode ser pior do que o dos animais que agem por instinto.

Edmunda: Ah! Se o homem evoluísse....


segunda-feira, 5 de maio de 2014

OS OLHOS





Ah, esses olhos!
Enxergam além dos feixes luminosos que têm por função captar...
Se comunicam com a alma de quem decidem encarar...
Revelam segredos...
E se perdem no tempo-espaço...
Quando pra dentro se põem a olhar.


Olhos e Dentes

E mais uma vez esse universo paralelo estremece... Raimunda volta a procurar Edmunda para entender a vida, para entender o mundo.

Raimunda: Socooooooooooooorro!!!! Edmunda, Socorro!!!


Edmunda: Hummm... Raimunda? Que foi?


Raimunda: É tanta coisa Edmunda...


Edmunda: Pelo sumiço... deve ter muita coisa mesmo.


Raimunda: Sumi mesmo né...


Edmunda: Sim, mas vamos aos fatos. Que foi menina? Tô curiosa!


Raimunda: É essa velocidade, esse ritmo frenético com que as informações são transmitidas e as pessoas reagem a elas.


Edmunda: Qual o problema? Isso é resultado do progresso.


Raimunda: O problema é justamente esse, não sei se estamos em progresso ou regresso...


Edmunda: Ixi! Lá vem bomba... explique-se!


Raimunda: Ninguém se aprofunda em nada. As pessoas aceitam ou rejeitam as coisas muito rápido, muito fácil, sem conhecer os assuntos direito.


Edmunda: É... consequência tanto da velocidade quanto do volume de informações.


Raimunda: Sim. Isso explica... mas onde fica a responsabilidade das pessoas com o que fazem com as informações?


Edmunda: E o que as pessoas fazem de tão grave com as informações???


Raimunda: Tudo! Disseminam informações incoerentes, iniciam movimentos e em alguns casos promovem atos de violência.


Edmunda: Tá certo...


Raimunda: A impressão que tenho é que as pessoas estão cada vez mais manipuláveis. A tecnologia que deveria servir para liberdade se tornou uma prisão camuflada.


Edmunda: O senso crítico é impopular, se posicionar de forma contrária à maioria pode te fazer perder fãs. E estamos na era da "popularidade democrática", o importante é colecionar curtidas.


Raimunda: Quando números são o objetivo, a qualidade pouco importa. Por essa ótica muita coisa se justifica. Mas é bom lembrar que historicamente a maioria erra muito.


Edmunda: E como erra! Mas também aprende com os erros, as transformações são lentas. É preciso ter paciência.


Raimunda: Os pés impuros, os absurdos, fazem parte do caminho? Tenho que aprender a esperar que as coisas mudem?


Edmunda: Esperar e agir. Plantar a semente da dúvida sempre ajuda no processo.


Raimunda: ...


O.o